O Nascimento de Shakyamuni Buda
No dia 8 de abril é celebrado o nascimento de Shakyamuni Buda. Ele nasceu no nordeste da Índia há cerca de 2.500 anos, como filho do rei Shuddhodana da Tribo dos Shakyas. Recebeu o nome de Siddhartha, que significa “Aquele que atingiu sua meta”. O nome da família daquele que viria a ser Buda era Gautama, por isso se pode ouvir sobre o Buda com esta denominação também, Siddhartha Gautama.
O reino dos Shakyas esperava há muito por um herdeiro para o rei. Um dia, a rainha Maya sonhou que um elefante branco entrava em seu ventre e, ao acordar, descobriu que estava grávida. O rei consultou um sábio sobre o sonho da rainha, e este, quando ouviu sobre o relato, ajoelhou-se em prantos e proferiu:
“Se o príncipe seguir o caminho terreno será um grande rei. Agora, se o príncipe seguir o caminho religioso, será o Rei de todos os mundos e reinos. É uma pena que não viverei para ver este dia chegar”.
O rei Shuddhodana, ao ouvir a profecia, ficou com medo de que seu filho não o sucedesse nas tarefas do reino e decidiu que ele seria superprotegido no castelo, para não ter contato com o mundo exterior.
Alguns dias antes de o Príncipe nascer, Maya desejou voltar à casa de sua família para dar a luz. No meio do caminho, como se encontrava indisposta, a rainha pediu para pararem a viagem e acabou dando a luz ali mesmo, no Jardim Lumbini. Conta a história que, assim que Siddhartha nasceu, deu sete passos na direção de cada ponto cardeal e, com sua mão direita levantada para o céu e a esquerda para a terra, declarou:
“Só eu sou venerado, no céu e na terra”.
Diz-se também que uma chuva levemente doce caiu do céu, dando início a tradição de banhar o infante Buda em chá amacha nas cerimônias de seu nascimento.
A Grande Renúncia
Siddhartha cresceu com todas as regalias de um príncipe, sem conhecer a dor e a desgraça. No entanto, isto mudou quando o Príncipe, com aproximadamente 30 anos e já casado, anunciou que sairia em um passeio e, a despeito de todas as preocupações do seu pai para esconder as impurezas do mundo de seus olhos, ao sair da fortaleza pelo portão leste, encontrou um velho, um pouco mais que um esqueleto com respiração curta e nenhum dente. Ao indagar o criado sobre a pessoa (ele não conhecia a velhice), recebeu a seguinte resposta:
“É um velho. Quanto mais o tempo passa depois do nascimento, mais a pessoa fica fraca e desamparada. Tal pessoa é esquecida por aqueles em seu redor e, para aumentar a sua angústia, restam-lhe apenas poucos anos de vida. Este é o destino de um velho, e todos haveremos de passar por isso, pobres ou nobres”.
Aquela cena deixou o príncipe pensativo. Quando teve a oportunidade de passear novamente, saiu pelo portão sul e encontrou desta vez uma pessoa doente que gemia. Ao indagar o criado sobre a pessoa (ele não conhecia a doença), recebeu a seguinte resposta:
“É uma pessoa doente. É uma pessoa que se encontra indisposta e não é mais dona de si. Nenhum ser vivo, pobre ou nobre, pode fugir à doença em dado momento”.
A cena deixou o príncipe mais pensativo ainda. Quando, evitando os portões pelos quais já havia saído, saiu pelo portão oeste, encontrou um cortejo fúnebre. Ao indagar o criado sobre o que era aquilo (ele não conhecia a morte), recebeu a seguinte resposta:
“É um cortejo para a pessoa que morreu. A morte acontece quando o espírito da pessoa deixa o corpo, e esta perde a vitalidade. Todas as pessoas que nasceram neste mundo precisam morrer”.
Triste, Siddhartha voltou ao palácio. Quando saiu para passear de novo, saiu pelo portão norte, onde viu um monge com a cabeça raspada e o rosto que parecia bem saudável, vestindo uma túnica marrom e com um cajado de monge. Ao indagar o criado sobre aquela pessoa, recebeu a resposta:
“Aquele é um monge, uma pessoa que se esforça para praticar a virtude e cessar de fazer o mal”.
Desta vez, Siddhartha não voltou ao castelo. Desceu da carruagem e perguntou ao monge que tipo de favor divino ele já recebera em troca da vida religiosa. O monge respondeu:
“Quando ainda era leigo, refleti sobre os quatro sofrimentos, do nascimento, da doença, da velhice e da morte, e percebi que todas as coisas estão em constante mudança. Ao levar a vida de monge e empenhar-me em praticar as disciplinas religiosas num lugar tranquilo, fui capaz de transcender vários sofrimentos. Sou alguém que se colocou definitivamente fora da corrupção do mundo. Acho que este é o favor divino que um monge pode receber”.
Ao ouvir as palavras do monge, Siddhartha finalmente entendeu que era o caminho do monge que ele procurava. Por mais que seu pai tentasse dissuadi-lo, o Príncipe estava certo de que queria seguir o caminho religioso. No tempo em que Yashodhara, esposa do Príncipe, deu-lhe um filho, Siddhartha deu-lhe o nome de Rahula (o pequeno viria a ser um dos dez discípulos de Buda mais tarde) e se libertou dos laços e obrigações com o reino que o prendiam. O Príncipe então saiu escondido do castelo, à noite, e se desfez de suas roupas e seus longos cabelos, ficando apenas com roupas grosseiras, determinado a voltar apenas quando atingisse à Iluminação.
A vida de monge e a Iluminação
Siddhartha, após renunciar sua vida de regalias e sair para procurar a iluminação, resolveu que iria seguir o caminho do ascetismo (prática na qual se acredita que o sofrimento carnal é o caminho para a Iluminação), praticando-o de várias maneiras até resolver que iria se voltar à mais rigorosa delas: o jejum, só comendo um grão de arroz e um grão de gergelim por dia e bebendo um gole de água. Obviamente, isto o deixou cadavérico, mas mesmo assim ele continuou.
Quando ele percebeu que pela prática de mortificação do corpo não iria atingir a iluminação, abandonou essa conduta e foi banhar-se no rio Nairanjana. Nesse momento uma jovem chamada Sujata, que estava passando por ali, ofereceu àquele homem muito magro e debilitado um mingau de arroz, fazendo-o se recobrar um pouco.
Depois deste episódio, Siddhartha foi meditar em Buddhagaya, embaixo de uma árvore bodhi. O caminho não foi fácil, pois Mara (a representação do Mal), o atacou de várias formas, enviando bonitas jovens para seduzi-lo, depois mandou um exército para abate-lo pela violência e, por último, foi pessoalmente até ele e tentou atacá-lo intelectualmente. Siddhartha passou por todas as provações, e Mara desistiu, deixando-o entrar em profunda meditação e chegar a um estado espiritual de perfeito desprendimento, o que permitiu que atingisse a iluminação. Após abrir os olhos e entender toda a Lei que regia a vida – a Verdade –, ele resolveu que pregaria esta Verdade para que a felicidade que ele estava sentindo fosse compartilhada com todos no mundo. O seu nome passou então a ser Shakyamuni (muni significa “Sábio”, então “Sábio da tribo dos Shakyas”) e recebeu o título de Buda, “Aquele que atingiu a Iluminação”. Por isso é conhecido como Shakyamuni Buda.
Buda se pôs em caminhada para pregar. Passando por vários lugares, conseguiu seguidores. Ao voltar à sua antiga morada, seu filho e sua esposa resolveram acompanhá-lo para praticar a Verdade. O Buda e seus discípulos encontraram dificuldades no caminho, mas, inspirados pela Verdade, continuaram, sempre conseguindo mais e mais seguidores (o grupo de Buda e seus inumeráveis discípulos até hoje leva a denominação de Sangha).
Essa prática continuou até Buda ter aproximadamente 80 anos (idade muito avançada para a época). Certo dia ofereceram, sem querer, a Ele um alimento com cogumelo venenoso. Ao perceber que estava perto de seu fim, Buda convocou todos os seus discípulos e começou uma viagem até Kushinagara. A viagem foi penosa por causa de seu estado físico debilitado, fruto do envenenamento com o alimento, mas todas as vezes que passava por alguém e era solicitado a pregar o Ensinamento, Ele pregava com todo prazer.
Finalmente chegando ao local de sua morte, pediu que lhe fizessem uma cama entre dois troncos de árvores sara, onde se deitou e respondeu à ultima pergunta feita a ele, por um de seus discípulos, sobre seus ensinamentos: Como poderemos continuar sem o Senhor?
Ele respondeu:
“Ensinei tudo a vocês. Vocês devem ser como lâmpadas para si mesmos, apoiando-se na Lei e em nada mais. Faça de Ti a sua Luz. Faça da Lei a sua Luz”
Pouco depois de proferir estas palavras, em 15 de fevereiro, Buda deixou o mundo terreno e entrou no Nirvana, de onde continua a nos guiar, não fisicamente, mas em nossos corações.
Esta é a história de Buda, o Iluminado que mudou a forma de pensar de nações e famílias inteiras. Até hoje ele é venerado e sua história é contada. O mais interessante é que na época em que ele viveu a escrita não existia, então a história e os ensinamentos do budismo foram transmitidos boca a boca até chegarem na era da escrita, quando foram eternizados como A História do Buda e o Sutra de Lótus.
A Emergência de Duas Correntes no Budismo
Shakyamuni Buda instruiu seus grupos de discípulos a que se governassem a si mesmos e nunca lhes pediu para que consolidassem uniformemente seus ensinamentos. Uma vez que seu único propósito era livrar as pessoas do sofrimento, ele pregou a verdade para eles de maneira que concordassem com seus níveis de entendimento e com o tempo e o lugar. Portanto, teria sido difícil compilar os ensinamentos de Shakyamuni Buda sistematicamente durante a sua vida.
O que, então, o Budismo tornou-se após a morte de Shakyamuni Buda? Com o tempo, diferenças maiores surgiram entre seus discípulos quanto à interpretação dos preceitos e dos ensinamentos. Por volta do ano 200 a.C. os discípulos posteriores se haviam separado em aproximadamente duas escolas – a conservadora e a liberal.
Por volta da mesma época, o grande imperador da dinastia Maurya Ashoka, que era um devoto budista, introduziu a escola conservadora do Budismo no Sri Lanka. A partir de lá este ensinamento (conhecido tanto como Theravada ou como Budismo do sul) espalhou-se para a Birmânia, Tailândia, Camboja e outras partes do sudeste da Ásia, onde ainda floresce.
Origem do Sutra de Lótus, um Veículo para Todas as Pessoas
As controvérsias entre as escolas conservadora e liberal tornaram-se cada vez mais ardentes por volta dos anos 100 ou 200 d.C. Os seguidores da escola liberal criticavam a escola conservadora por sua inflexível insistência na salvação pessoal e pelo que eles viam como seu afastamento do pragmatismo essencial do ensinamento de Shakyamuni Buda. A escola liberal iniciou um movimento pela salvação das pessoas comuns leigas e compilou muitos dos sutras que compreendem os livros sagrados do Mahayana ou “grande veículo” do Budismo. A escola conservadora respondeu este desafio com declarações firmes da correção de sua ortodoxia tradicional.
Foi sob estas circunstâncias que o Sutra de Lótus da Lei Maravilhosa, ou Sutra de Lótus, foi introduzido num esforço para unificar as duas correntes do Budismo em um único veículo a ser seguido por todas as pessoas. Uma vez que seu conteúdo representa a essência e a culminância do ensinamento de sabedoria, compaixão e libertação de Shakyamuni Buda, o Sutra de Lótus foi reverenciado por incontáveis pessoas. Conforme o tempo passava, as pessoas começaram a achar o sutra difícil de se entender.
O Sutra do Lótus na China e no Japão
O Budismo Mahayana foi posteriormente transmitido na direção norte da Índia, através da Ásia Central para a China, ficando também conhecido como Budismo do norte. Com esta corrente do Budismo, o Sutra de Lótus chegou à China. Lá, o patriarca da escola T’ien-T’ai, Chih-i (538-597), reverenciado como “o pequeno Shakyamuni”, escreveu muitos comentários excelentes sobre o Sutra de Lótus, explicando seus profundos ensinamentos. Através de seus esforços, muitas pessoas tornaram-se capazes de compreender e valorizar a mensagem de Shakyamuni Buda.
No ano em que Chih-i nasceu na China, o Budismo chegou ao Japão a partir da China, via Coréia. A partir da introdução do Budismo no Japão, os ensinamentos do Sutra de Lótus têm tido uma influência importante na cultura japonesa. Por exemplo, através da Constituição dos Dezessete Artigos, que se baseou no espírito do Sutra de Lótus, o Príncipe Shotoku (574-622) estabeleceu o primeiro código legal do Japão; e o grande sacerdote Saicho (767-822) fundou a seita japonesa Tendai (T’ien- T’ai) para levar este Sutra a muitas pessoas. Mesmo quando consideramos os fundadores de seitas aparentemente não relacionadas com o Sutra de Lótus, como Dogen (1200-1253), que fundou a seita Soto Zen, descobrimos que o espírito do Sutra de Lótus é uma forte subcorrente em seus pensamentos e escritas.
No décimo-terceiro século, o sacerdote Nichiren (1222-1282) infundiu uma nova vida no Sutra de Lótus e sustentou que apenas pela prática de seus ensinamentos é possível salvar a sociedade e a nação, tanto quanto o indivíduo. Entretanto, quase sete séculos após a morte de Nichiren, o espírito de seus ensinamentos perdeu muito de sua vitalidade, e o verdadeiro espírito do Sutra de Lótus foi esquecido.
Nós, da Risho Kossei-Kai, temos como um dos objetivos difundir esta história e o ensinamento do budismo, para que cada vez mais pessoas entendam a Verdade e encontrem a Iluminação.